ALPINE A110, UM JOVEM SEXAGENÁRIO

Na indústria automóvel, como na arte, há correntes de estilo. Na “escola” americana, o carro desportivo faz-se de centímetros cúbicos, traduzidos em potência e binário generosos, entregues de forma brutal, sonora e exuberante. O peso pouco importa e a agilidade nem sempre é um aspeto relevante, dado o tipo de terreno para que nascem os “muscle car”.

No extremo oposto a esta corrente estão os construtores europeus independentes, como a Lotus, a Matra e a Alpine. Para estes, o motor é a parte da obra que não leva assinatura. O foco está na dinâmica, na leveza e na procura de soluções que releguem para segundo plano a importância da potência. Ambas as realidades têm o seu encanto mas, para nós, europeus, que sempre lidámos com escassez de combustível e estradas retorcidas, a arte do minimalismo é sedutora.

Parte desse encanto está relacionada com o fascínio que sempre temos pelas histórias de heróis improváveis. Épicos como David e Golias, em que a personagem mais frágil surpreende o adversário opressor pela astúcia ou rapidez. E, na prática, isso aconteceu mesmo com o A110, nascido há 60 anos.

A Alpine era uma empresa de recursos escassos e estrutura pequena quando se aventurou nos ralis. O pequeno motor 1300 era suficiente para brilhar nas provas nacionais, mas limitado e frágil para as então duras e longas provas do mundial.

Apesar disso e, com a ajuda de pilotos talentosos, o ágil A110 lutou pela vitória nas provas de Geneva e Coupe des Alpes. Gérard Larousse teve mesmo a vitória do Monte Carlo de 1968 na mão, não fosse um embate provocado por espectadores.

No entretanto chegou o apoio oficial da Renault e a homologação do 1600S, que já não era propriamente um David. A última aparição notável do pequeno 1300 dar-se-ia no Monte Carlo de 1970. Jean Pierre Nicolas era então uma espécie de rookie e “aguadeiro” dos pilotos 1600.

Quando os motores destes cederam, Nicolas ficou com o “papel principal” e passou ao ataque, conquistando um fantástico terceiro lugar da geral, atrás apenas dos 911S de Waldegård e Larousse e à frente de muitos “gigantes” dos ralis equipados com máquinas teoricamente superiores.

Por estes feitos, o Alpine era um dos favoritos dos adeptos dos ralis, mas também de Nicolas, Ove Andersson e Michéle Mouton que o elegeram como o seu carro de rali favorito.

Enquanto automóvel de estrada, o Alpine A110 surpreendia pela performance obtida com os modestos motores Renault, mas também pelo inesperado conforto.

O desenho extremamente atraente de Giovanni Michelotti, ajudou a conquistar os fãs do desporto automóvel, mas não só. É um modelo com uma imagem e uma presença tão fortes no imaginário dos entusiastas, que acabou mesmo por justificar o nascimento de uma nova geração em 2017.