COLECÇÃO GRUPO B A LEILÃO

Em 1983 entrou,  em vigor o regulamento FIA que os construtores desejavam ver implementado. A diminuição do número de unidades exigidas para homologação de 400 para 200, era algo que permitia reduzir imenso os custos de participação e, ao mesmo tempo, elevar o nível de sofisticação, bem como o custo unitário de cada carro. Para homologar evoluções tais como um turbo maior, painéis mais leves, ou uma nova caixa de velocidades, bastava construir 20 unidades de estrada que incorporassem esses componentes. Era possível dentro dessas evoluções ganhar 100cv ou perder 100kg.

Houve claramente alguma ingenuidade por parte dos legisladores. O que se esperava do Grupo B era que abrisse a porta ao surgimento de mais veículos desenhados especificamente para os ralis, como foi o caso do Stratos ou do Renault 5 Turbo de Grupo 4. Os cerca de 300cv atingidos pelos primeiros Grupo B, pareciam ser o limite de potência útil que de podia “descarregar” através de duas rodas motrizes. Contudo, o novo regulamento coincidiu com as primeiras utilizações das quatro rodas motrizes, que permitiam sensivelmente o dobro da tracção. Em pouco tempo, o dobro da potência passaria a ser também uma realidade.

De repente, os ralis passaram a ser uma modalidade com tanta ou mais tecnologia do que a Fórmula 1. Os melhores engenheiros trabalhavam em soluções radicais para procurar a máxima performance. Os carros do Grupo B eram extraordinariamente potentes, mas eram também muito leves, com pesos a rondar os 900kg. Para atingir esse valor, as carroçarias eram fabricadas em materiais como poliéster, poliuretano ou Epoxy. E para uma mais eficaz distribuição de peso, alguns modelos transportavam o combustível (mais inflamável do que o normal) na zona das embaladeiras.

Tínhamos assim uma incrível combinação de motores capazes de ultrapassar os 200km/h numa classificativa, com uma carroçaria altamente inflamável e um depósito bastante exposto. Não era preciso um acidente muito espectacular para que um carro de rali se transformasse rapidamente numa bola de fogo. E o pior é que, pela espectacularidade que a modalidade atingiu, qualquer que fosse a curva em que se desse o despiste, era provável que lá estivessem umas dezenas de espectadores. Infelizmente, foi isso mesmo que aconteceu no Rali de Portugal de 1986, quando Joaquim Santos perdeu o controlo do Ford RS200 da Diabolique.

Tragédias à parte, o Grupo B deu origem a alguns dos mais espectaculares carros de estrada alguma vez feitos. Nesta fase, a febre dos ralis contagiou todos os grandes construtores. Em carros de duas rodas motrizes destacaram-se o Lancia Rally 037, o Renault 5 Maxi Turbo, o Opel Manta 400 e o Toyota Celica Turbo. No entanto, os mais marcantes foram mesmo os monstros de transmissão integral: Audi Sport Quattro, Austin Metro 6R4, Peugeot 205 T16, Lancia Delta S4, Ford RS200 e Citroën BX 4TC. Uns tiveram mais sucesso e impacto do que outros, com natural reflexo na cotação dos exemplares de estrada. Em qualquer caso, todos eles são modelos coleccionáveis e altamente desejáveis.

Por essa razão, a colecção que a Artcurial leva a leilão esta semana, representa um verdadeiro tesouro, não só pela relevância dos modelos em causa, mas pelo historial dos exemplares em particular. São eles:

– Audi Quattro Sport S1 usado na Race of Champions e pilotado por Ari Vatanen, Michelle Mouton, Bruno Saby, entre outros;
– Peugeot 205 T16 Evolution 2 pilotado no WRC por Timo Salonen e Bruno Saby, com este último a terminar em segundo na Volta à Córsega de 1985, atrás do Renault 5 Maxi Turbo de Ragnotti;
– Um dos últimos Lancia Delta S4 produzidos e que, devido ao fim do Grupo B, apenas competiu em rallycross e corridas no gelo pelas mãos de Bruno Saby;
– O MG Metro 6R4 com que Didier Auriol se sagrou Campeão francês de ralis em 1986;
– Ford RS 200 pilotado no Mundial de 86 por Stig Blomqvist e Kalle Grundel;
– O Renault 5 Maxi Turbo com que Carlos Sainz  competiu nos Campeonatos Espanhol e algumas rondas do Europeu;
– Um Lancia Rallye 037 Evo de 1985.