Com a Fiat a adiar muito para lá do razoável a substituição do 127, era cada vez mais necessário que o novo modelo fosse bastante vanguardista e suficientemente consensual para triunfar.
Giugiaro agarrou o desafio e respondeu com mais um toque de génio. As formas do Fiat Uno eram diferentes de qualquer concorrente e, ainda assim, perfeitamente consensuais. Simples, geométricas, mas polidas. À primeira vista, o Uno parece quase um desenho “fácil”, mas há detalhes que espelham o talento aplicado: os puxadores de porta embutidos para maior apuro aerodinâmico; os frisos de ornamento da grelha que tornam a superfície frontal visualmente mais pequena e ao mesmo tempo criam uma identidade própria; o corte muito vertical da traseira destinado a melhorar o coeficiente de penetração, num contraponto perfeito à silhueta mais elevada.
O motor usado foi o agora lendário FIRE, ainda na versão primitiva de 999cc. O desenho do motor foi entregue ao Bonetto Design Center (de Rodolfo Bonetto) sob supervisão do Centro Stile e era uma unidade bastante simples em conceito, com árvores de cames à cabeça e cambota de cinco rolamentos. O nome FIRE era, na verdade, um acrónimo para Fully Integrated Robotised Engine. Uma vez mais, depois da campanha do Ritmo, a Fiat procurava realçar a automatização como argumento de marketing. Afinal, que melhor altura para o fazer, do que numa década em que todas as crianças brincavam com robôs?
Tendo a robustez e frugalidade como principais atributos, o FIRE estava na cidade como peixe na água, principalmente quando associado a uma caixa de cinco velocidades. Na suspensão traseira o Uno usava um sistema independente com braços longitudinais e eixo de torção.
Por todos os atributos técnicos, de design e económicos, o Uno mereceu o galardão de Carro Europeu do Ano em 1984. O sucessor do 127 tinha precisamente o que era preciso para um sucesso de massas e devolveu à Fiat um protagonismo há muito perdido no segmento mais baixo do mercado.
O Uno tornou-se de tal forma omnipresente que é fácil esquecermo-nos de quão importante foi na história e que já completa 40 anos, o que faz dele uma excelente opção enquanto veículo histórico.