O PRIMEIRO AUTOMÓVEL? NÃO FOI O BENZ…

Como acontece com todas as grandes invenções da humanidade, há sempre alguma disputa quanto a quem dar crédito pela invenção do primeiro automóvel de sempre.

O mais comum é considerar-se que o triciclo que hoje conhecemos como Benz Patent-wagen terá sido o primeiro primeiro verdadeiro automóvel. É como que a “versão oficial” da história, uma vez que Karl Benz foi o primeiro a registar a patente do modelo criado por si em 1885. Como tal, este seria também o primeiro automóvel a ser comercializado.

Contudo, indo à raiz do conceito de automóvel, ou seja, um veículo que se locomove por meios próprios, é aceitável dizer-se que o primeiro de todos tenha sido o “fardier à vapeur” de Nicolas-Joseph Cugnot, criado em 1770.

Tratava-se de uma máquina concebida para transportar material militar, que usava um motor a vapor com uma caldeira gigante. Pesava 2,5 toneladas e tinha uma velocidade máxima teórica de 3,5km/h. Embora nunca tenha atingido a velocidade limite, protagonizou o primeiro acidente motorizado ao embater num muro de uma propriedade. O episódio insólito levou mesmo Cugnot à prisão, por condução perigosa.

O “fardier à vapeur” teve tal impacto científico e social que foi preservado e está, em estado muito original, no Museu das Artes e Ofícios em Paris.

Mas aquele que foi, verdadeiramente o primeiro automóvel de passageiros a gasolina, totalmente funcional, surgiu na sequência da criação do primeiro motor a quatro tempos por Nicolaus Otto e Eugen Lagen, em 1867.

O motor teve várias funções e foi usado para resolver diferentes necessidades, mas o alemão Siegfried Marcus foi o primeiro a usar um destes motores para a mobilidade, em 1870. Este veículo, ainda que imensamente básico, parecia-se mais com a ideia que temos de automóvel do que o próprio Patent-wagen. Também por isso, é justo dizer que Siegfried Marcus foi o verdadeiro inventor de um automóvel a gasolina.

O facto do seu nome ser quase tornado irrelevante na história do automóvel, poderá ter explicação na sua religião judaica. No período Nazi, Marcus foi quase literalmente apagado dos livros de história, colocando-se os holofotes em Benz, um protagonista que, aparentemente, era mais do agrado do regime.